A Vida Espiritual

Capítulos selecionados da obra "The Spiritual Life", de Sri Chinmoy

A Vida Espiritual

PREFÁCIO

A voz do Silêncio não precisa e de fato não nos oferecerá
A mesma coisa sempre.
Ao passo que evoluímos, ela nos oferece uma melhor, mais elevada
E mais satisfatória luz.

Cada ser humano tem um Deus próprio. Liberdade, absoluta liberdade deve ser concedida a cada alma para que descubra o seu próprio caminho. Duas coisas que devemos fazer: estudar a vida o mais devotadamente e viver a vida o mais divinamente. A meta da vida é realizar Deus. Essa realização nunca virá para aquele que é inativo. Devemos nos esforçar, buscar a realização; temos de pagar o preço por ela. Não há alternativa.

A nossa vida tem duas realidades: uma exotérica e outra esotérica. A realidade exotérica lida com o mundo exterior. A realidade exterior procura se satisfazer alimentando desejos e estimulando emoções. A realidade esotérica ou interior encontra verdadeira satisfação no controle das emoções e na superação dos desejos, em nadar no vasto mar da Libertação.

Há duas vidas: a interior e a exterior. A vida exterior fala sobre os seus princípios e então procura agir. A vida interior não fala. Ela age. Sua ação espontânea é a manifestação consciente de Deus.

Triste é o mundo — e nós somos os responsáveis, são responsáveis os nossos sentimentos de egoísmo e auto-importância. É preciso que a consciência individual se expanda. O homem precisa de inspiração, ele necessita de ação. A espiritualidade precisa do homem, ela necessita de verdadeira satisfação. Ela tem a visão interior que conecta toda situação da vida com certeza interior.

Aceitemos a vida interior, a vida espiritual. Ela não é um leito de rosas e nem uma cama de espinhos. Ela é um leito de realidade e inevitabilidade.

Uma pessoa espiritual é aquela que ouve os ditames da sua alma, e a quem o medo não consegue torturar. As opiniões do mundo são fracas demais para atormentar a sua mente e coração. Essa verdade ela conhece, sente e incorpora.

  • Sri Chinmoy

ESPIRITUALIDADE

A plenitude da vida
Reside em sonhar e manifestar
Os sonhos impossíveis.

No início, é muito fácil pensar em Deus como o Criador e não como a criação, porque, quando olhamos ao nosso redor, percebemos que a criação de Deus está cheia de imperfeições.

No princípio de seu despertar espiritual, a criança pergunta à mãe: “Onde está Deus?” A sua mãe imediatamente responde: “Deus está no Céu.” A criança diz então: “Onde está o Céu?” E a mãe responde prontamente: “O Céu está lá em cima.” A criança fica satisfeita, considerando a resposta da mãe bastante adequada. Depois, quando a criança cresce e faz esta mesma pergunta ao professor, “Onde está Deus?”, o professor pode lhe dizer que Deus está no Céu ou que Deus está no seu próprio coração. Anos mais tarde, quando começar a se tornar adulta, talvez ela queira procurar em seu interior profundo e ver por si mesma onde está Deus, e então cedo ou tarde ouve falar sobre professores espirituais que realizaram Deus. Ela procura um Mestre espiritual e lhe pergunta sobre a autenticidade de Deus. E quando estiver convencida de que Deus existe, a pergunta imediata será: “Onde está Deus?” O Mestre espiritual dirá que Deus está em tudo e em todo lugar. Mas até que o aspirante realize Deus isso será mero conhecimento mental. Ele deverá mergulhar dentro de si mesmo para tomar conhecimento dessas verdades.

Deus está no 'sim' do coração e também no 'não' da boca. Quando o coração diz 'sim', Deus está dentro desse 'sim'. Deus é visível, Ele está realmente ali. Todavia, quando tentamos falar sobre Deus, ficamos sujeitos à dúvida e os nossos próprios sentimentos interiores ficam confusos. A boca diz: “Não, não há Deus”, mas Deus existe inclusive na boca que O nega. É só no coração onde poderemos sentir, ver e nos tornarmos a Divindade mais elevada.

Há dois tipos de pessoas na Terra: espirituais e não-espirituais. As pessoas espirituais são, muitas vezes, acusadas de serem anormais pelas que não são espirituais. Estas dizem que as pessoas espirituais querem viver nas nuvens e alimentar-se da luz da Lua, que não fazem noção da realidade, que enganam a si mesmas. Essa é a acusação comumente feita acerca delas. Por sua vez, as pessoas espirituais dizem que são absolutamente normais, e que as pessoas não-aspirantes é que são anormais.

Uma pessoa não-aspirante acusa a pessoa espiritual de não prestar atenção à vida exterior. Mas uma verdadeira pessoa espiritual está destinada a dar plena atenção à vida exterior. Se não é espiritualmente sincera, num sentido genuíno da palavra, em nome da espiritualidade ela ignora e maldiz o mundo exterior. Mas o mundo exterior é a manifestação de Deus. Se alguém espera realizar a Verdade altíssima, como poderá ignorar a manifestação exterior de Deus? Uma pessoa verdadeiramente espiritual não ignora o mundo exterior; pelo contrário, ela aceita o mundo, aceita o desafio do mundo. E dessa forma conquistará a ignorância do mundo, oferecendo então a sua Luz-Sabedoria ao mundo como um todo.

Pessoas não-aspirantes têm o hábito de comentar que as pessoas espirituais temem o mundo, que são covardes, fugindo do mundo e se escondendo como ladrões, ao passo que é a pessoa não-aspirante quem carrega em seus ombros as responsabilidades do mundo inteiro. Em tempo, queremos dizer que, se uma pessoa verdadeiramente espiritual não se envolve nas atividades do mundo, é tão somente porque está se preparando para mais tarde assumir as responsabilidades do mundo. Ela sabe que só Deus pode conceder a Luz infinita, a Felicidade infinita, a Paz infinita e o Poder infinito para mudar a face do Mundo.

Sarada Devi, a esposa de Sri Ramakrishna, disse algo muito relevante: a diferença entre uma pessoa espiritual e uma pessoa comum é muito simples. Pode-se ver facilmente a diferença entre ambas: uma pessoa comum chora e verte lágrimas amargas quando a morte se aproxima, enquanto que a pessoa espiritual, se é sinceramente espiritual, rirá e rirá quando a morte se aproximar, porque para ela morte é divertida, nada mais.

A maioria das pessoas procura a vida espiritual por motivo de desesperança, e não por necessidade da alma. São muito poucos os que começam desde o início da sua existência a construir uma vida interior por necessidade da alma. Grande parte volta-se para a vida interior por pura frustração, quando vê que o mundo os está torturando impiedosamente e que não há esperança. Todavia, se as pessoas entram para a vida espiritual, saibam elas então que não estão tomando como uma fuga. Muitas pessoas pensarão que a vida exterior os abandonou, e por isso querem aceitar a vida interior como uma forma de escapismo. Mas não, a vida interior não é uma fuga. A vida interior nos mostrará a verdade e a luz, e ainda mais, ela nos guiará e nos dará a mensagem da iluminação e da transformação.

A verdadeira alegria interior é autocriada,
Não depende de circunstâncias exteriores.
Um rio flui em e através de você,
Carregando a mensagem da alegria,
E essa alegria divina é o único propósito da vida.

CONSCIÊNCIA

Consciência é a luz radiante
Que une o homem a Deus;
O finito com o Infinito.

A consciência é a centelha ou elo dourado que liga a nossa parte mais elevada e iluminada com a parte inferior e mais obscura. A consciência é o elo de ligação entre o Céu e a Terra. E onde está o Céu? Não está no piso superior e nem é algo longínquo. O Céu está na nossa consciência. Todavia, aquela consciência que une o Céu e a Terra é a consciência divina. A consciência humana, comum, só nos conectará a algo muito, muito limitado e, ao mesmo tempo, muito efêmero. Por um segundo poderemos focar a consciência noutra pessoa, mas depois a concentração desaparece. Já quando lidamos com a consciência interior, a consciência ilimitada, iluminada e transformada, o nosso foco de concentração persiste, contínuo e ininterrupto.

Mas não são apenas as pessoas espirituais que têm essa consciência divina. As pessoas comuns também a têm, todavia nelas ela está adormecida. Caso se concentrassem, meditassem e contemplassem, essa consciência emergiria à superfície, e elas teriam livre acesso à alma, a qual é toda Luz, Paz e Felicidade.

A alma eterna e a consciência infinita devem andar juntas. Elas têm um amigo, ou talvez possamos dizer um pai comum, que é a vida, a vida eterna. Uma complementa a outra. A alma expressa a sua divindade através da consciência, e a consciência expressa o seu todo-permeante poder ou silêncio através da alma.

A consciência e a alma nunca podem ser separadas, ao passo que o corpo pode facilmente ser separado da consciência. O que na nossa vida humana chamamos consciência, normalmente é apenas um sentimento. Ao percebermos algo sutil, imediatamente o chamamos de consciência, mas não é – é um desejo muito sutil. Entramos no desejo e imediatamente acreditamos que seja a nossa consciência. Tudo o que é sutil em nós e tudo o que não podemos definir com palavras, chamamos de consciência. Mas a consciência é algo completamente diferente.

Percepção e consciência são também coisas totalmente distintas. Se eu falo ou tenho contato com alguém, a minha mente adquire conhecimento das suas qualidades. Isso é percepção. Mas a consciência não é percepção ou compreensão mental. A consciência é uma revelação ou um estado interior. É algo infinitamente mais profundo e interior do que a percepção.

A inteligência é limitada. Uma pessoa pode ter o seu dedo polegar maior que o de outra pessoa, mas apenas cerca de um centímetro, e isso não tem muita importância. Também a inteligência pode ser um pouco maior ou menor, mas é limitada e sempre será limitada.

O caso da consciência é bastante diferente. Ela é vasta, muito vasta. A consciência finita é limitada, mas ela pode desdobrar-se numa consciência infinita e tornar-se o próprio Infinito.

A consciência humana é constituída principalmente de limitação, imperfeição, escravidão e ignorância. Essa consciência deseja permanecer aqui na Terra. Obtém alegria no finito: na família, na sociedade, nos assuntos terrenos. A consciência divina é feita de Paz, Felicidade, Poder divino e etc. A sua natureza é expandir constantemente. A consciência humana sente que não há nada mais importante do que o prazer terreno. A consciência divina sente que não há nada mais importante e significativo do que a Alegria e o Deleite celestial na Terra. A consciência humana tenta convencer-nos de que estamos muito afastados da Verdade ou da satisfação verdadeira, ela quer fazer-nos sentir que Deus está numa outra parte, longe de nós, a milhões de milhas de distância. Mas a consciência divina nos faz sentir que Deus está bem aqui, dentro de cada alento-vida, dentro de cada pulso do coração, dentro de cada pessoa e cada coisa que nos rodeia.

A consciência humana nos faz sentir que podemos existir sem Deus. Quando imersa em ignorância profunda, a consciência humana sente que não há necessidade de Deus. Vemos milhões e bilhões de pessoas que não oram nem meditam. Elas pensam: “Se Deus existe, que bom; se não existe, não perdemos nada.” Apesar de usarem o nome 'Deus' a toda hora, elas não se interessam de fato pela existência de Deus, seja no Céu ou no seu dia-a-dia na Terra.

A consciência divina não é nada parecida com isso. Mesmo a consciência divina limitada que possuímos agora nos faz sentir que a cada momento existe a suprema necessidade de Deus. Ela nos faz sentir que estamos na Terra precisamente porque Ele existe. E quando acalentamos pensamentos divinos, a consciência divina nos faz sentir que é Deus quem nos está inspirando a acalentar essas idéias divinas. Em tudo a consciência divina nos faz sentir que há um propósito divino, um objetivo divino, um ideal divino, uma meta divina. Na consciência humana comum não há propósito, não há meta positiva; é como um elefante louco correndo às cegas. Já na consciência divina há sempre uma meta, e essa meta está sempre transcendendo a si mesma. Hoje consideramos algo como a nossa meta, mas quando estamos à beira de alcançarmos esse objetivo, nos sentiremos imediatamente inspirados a ir além — o objetivo converte-se num degrau para uma meta superior. Isso ocorre porque Deus está constantemente transcendendo a Si mesmo. Deus é ilimitado e infinito, mas mesmo a Sua própria Infinidade Ele está transcendendo. E, já que Deus está sempre fazendo progresso, nós também estaremos enquanto na consciência divina. Nessa consciência tudo está constantemente a expandir-se, a converter-se numa Luz mais elevada e gratificante.

Sou consciência-Benevolência-infinita,
Eterno e imutável.
Eu vim ao mundo
Com uma nova consciência absoluta
A revelar e manifestar.

DEUS O SUPREMO

A eterna pergunta do homem:
Quem é Deus?
A resposta imediata de Deus:
“Minha criança, quem seria Deus,
Senão você?”

Deus é a única verdade aqui na Terra e lá no Céu. Para um aspirante, Deus vem primeiro lugar. Mas isso não significa que ele rejeite ou renegue o mundo, longe disso! Ele ama a Deus. Ele ama à humanidade. Ele ama a Deus porque Deus é todo Amor. Ele ama à humanidade porque dentro da humanidade está Deus, Aquele que é Todo-Amor.

Quando apreciamos a beleza física de alguém, estamos apreciando a beleza exterior, a qual é infinitamente inferior à beleza interior. Todavia, se nós pudermos apreciar primeiro a beleza interior, sentiremos que a beleza exterior pode ser estimada de uma maneira divina, como a manifestação de uma beleza interior. Por isso, quando apreciamos a beleza exterior, temos de saber que dentro dela está o Supremo, o qual é Todo-Beleza. Estimamos a criação exterior porque dentro dela está a criação interior, que é toda harmonia, toda alegria e toda perfeição.

Um ser humano comum não consegue ousar possuir verdadeira esperança, verdadeiro amor, verdadeira inspiração e verdadeira aspiração porque, segundo ele, Deus está lá no Céu, ou noutro lugar qualquer. Ele não sente a presença de Deus em seu interior, diante de si ou ao seu redor. Mas o aspirante espiritual que chora por Deus, constantemente vertendo lágrimas de fervor, buscando tornar-se um com Deus, esse sente que Deus está nos mais profundos recessos de seu coração. Ele não tem de ir para as grutas nos Himalaias a fim de realizar Deus. Seu Deus vive dentro dele, e ele sente que porque Deus está em seu interior, a criação de Deus também está dentro de si. Uma pessoa espiritual sente que toda esta criação de Deus é o seu lar. Através de uma nova inspiração e aspiração, toda a criação de Deus está constantemente sendo criada e revelada no interior do aspirante. Aquele que aceita a espiritualidade no sentido mais verdadeiro da palavra tem de primeiro sentir que Deus é a única realidade. Então verá que a criação de Deus nunca poderá ser separada Dele.

As coisas que necessitamos certamente nos serão dadas pelo Supremo. Apenas temos de saber que há coisas que realmente precisamos e que há outras as quais apenas desejamos ou ansiamos. As coisas que nós de fato precisamos, que a alma necessita, que o coração necessita, estão sempre garantidas. Essas necessidades verdadeiras não vêm de nós, elas vêm da Fonte para nós na forma de uma inspiração. Quando essa inspiração tenta se manifestar, converte-se na nossa criação, na nossa realização, na nossa conquista. Mas a necessidade em si chega a nós em forma de inspiração, a qual tem origem na Fonte. As suas necessidades interiores serão certamente satisfeitas, mas, se todas as coisas que você deseja fossem realmente concedidas, elas lhe trariam grandes dificuldades. Ao satisfazer os nossos caprichos ou demandas vitais só estaremos aumentando as nossas dificuldades.

Ao trazer Deus às nossas experiências do dia-a-dia descobrimos que Deus pensa mais, infinitamente mais em nós do que nós mesmos. Às vezes acreditamos que pensamos em Deus mais do que Ele pensa em nós, mas isso é absurdo. Ou então achamos que pensamos em nós mesmos mais do que Ele o faz, mas isso também é um absurdo. Dizemos: “Deus fez toda a criação. Ele tem de pensar numa infinidade de seres, e eu sou apenas uma partícula diminuta! Como é que Ele conseguiria pensar em mim, ou por que haveria de fazê-lo?” Mas não funciona assim. Deus tem a capacidade de criar e também tem a capacidade de pensar em cada um de nós da Sua Maneira inimitável. Temos de compreender que Ele pensa em nós infinitamente mais do que pensamos em nós mesmos. Afinal, somos Seus instrumentos; não é Deus o nosso instrumento. Somos instrumentos Dele, e naturalmente Ele tem de pensar e cuidar de nós se quer fazer-nos perfeitos.

Quando o poder do amor
Substituir o amor pelo poder,
O homem terá um novo nome: Deus.

ASPIRAÇÃO ESPIRITUAL

A sempre ascendente chama
Do choro-aspiração de meu coração
É a fonte da sempre-crescente
Alegria e deleite da minha vida.

A aspiração aprende tudo através do coração, através da perfeição do coração. A aspiração não é cérebro-conhecimento; ela é coração-florescimento. O cérebro-conhecimento duvida. A dúvida é um veneno lento no nosso organismo espiritual, extinguindo a nossa pureza, a nossa serenidade, a nossa realidade e a nossa profundidade. O coração-florescimento está fundado na nossa fé, na nossa abnegação e em nosso sentimento de unicidade universal. O coração-florescimento aceita. Na aceitação reside a mensagem da completa satisfação, porque através dela por fim transformamos a imperfeição em perfeita Perfeição. Primeiro vemos e aceitamos algo que é não-divino. Depois, pela força de nossa luz interior lhe damos uma nova vida e finalmente o tornamos supremamente divino.

Aspiração é aceitação da vida e transcendência da morte. É a transformação e a transcendência da força-morte. Através da nossa aspiração tentamos estabelecer um livre acesso à vida imortal, de modo que nos tornemos capazes de estabelecer o Reino dos Céus aqui na Terra. Esse Reino não precisa e nem pode continuar eternamente imaginário. Ele deve ser estabelecido em nossa vida de aspiração. Quando mergulhamos no nosso interior descobrimos que a aspiração é o próprio Alento de Deus, que utilizamos para nosso próprio bem. Também, a aspiração é a morte da ignorância de milênios. Quando a ignorância chega ao fim, Deus reclama tal aspirante como Seu instrumento escolhido e manifesta-Se na Terra através dele. Existem dois mundos na Terra: o mundo dos desejos e o mundo da aspiração. No mundo do desejo, a frustração assoma grandiosa e a vida animal reina suprema. No mundo da aspiração, a nossa flor-satisfação floresce pétala após pétala. No mundo da aspiração, o sonho do aspirante transforma-se em suprema Realidade. O aspirante compreende que Deus é o homem ainda não manifestado e que o homem é Deus ainda não realizado. A realização do homem e a manifestação de Deus ocorrem quando toda a existência do aspirante se torna completamente receptiva ao fluxo incessante de Luz e Compaixão de Deus. Em nome de Deus, a aspiração prepara o nosso ser interior. Em nosso nome, a aspiração recebe e acolhe Deus. Em nós a aspiração acolhe o divino e realiza o humano. Homem e Deus necessitam um do outro mútua e eternamente. O homem necessita de Deus para realizar a sua Realidade transcendental, e Deus necessita do homem para a Sua plena, integral e universal manifestação na Terra.

A aspiração facilita a viagem do homem até à Meta transcendental e acelera a manifestação de Deus aqui na Terra. O aspirante pode adiantar a hora escolhida por Deus desde que a sua chama de aspiração cresça cada dia ao alto, mais alto, altíssimo. Hoje, com a força de sua chama-aspiração ele alcança o Altíssimo. Amanhã ele desce para revelar a mais elevada Realidade transcendental no coração da humanidade aspirante.

A aspiração abrange o mundo exterior e o mundo interior, o mundo da realização e o mundo da manifestação, o mundo do ego e o universo da unicidade universal. Com a aspiração começamos a nossa viagem, e é com a aspiração que continuamos a nossa jornada. Já que não há um fim para a nossa viagem e já que Deus é infinito, eterno e imortal, a nossa aspiração fluirá constantemente à Infinidade, Eternidade e Imortalidade de Deus. Não há fim para a nossa jornada. A aspiração é como um caminho sem fim que conduz eternamente até o Além sempre-transcendente.

Há uma diferença sutil entre o desejo de riqueza material e o desejo de riqueza interior. Quando se trata de sede interior, empregamos a palavra aspiração. Em nossa vida material, nós temos um carro, por exemplo, mas gostaríamos de ter dois, três, quatro carros. Apenas queremos aumentar, aumentar, aumentar as nossas posses. Essa é a nossa vida de desejo. Mas na vida espiritual temos uma certa coisa, e em virtude da nossa unicidade com os outros sentimos que temos tudo o que eles têm. A vida de desejo acaba finalmente em frustração. Não importa quantos carros tivermos, não importa quanta riqueza material tivermos, não alcançaremos satisfação. A vida de aspiração é sempre satisfatória, mesmo se obtivermos apenas uma migalha de Luz. Enquanto meditamos, se de repente virmos um raio de Luz, poderemos acalentar essa experiência por meses, porque o que vimos é algo consistente. A vida de aspiração nos trará o sentido de Divindade.

Quando aspiramos tentamos entrar em algo vasto, em algo infinito. Quando aspiramos durante a nossa meditação sentimos que o vasto céu nos pertence, sentimos o vasto oceano dentro do nosso coração. E não é mera imaginação, é realidade.

O desejo é o nosso anseio constante por amarrarmos a nós mesmos e também aos outros, enquanto que aspiração é uma expansão imediata da nossa realidade. Com a nossa aspiração tentamos sempre nos libertar e libertar os outros. Quando aspiramos procuramos imediatamente nos expandir. Tentamos libertar as pessoas que nos rodeiam e são queridas. A aspiração nos faz sentir que a nossa verdadeira conquista é a expansão de nossa consciência. Já o desejo nos faz sentir que a verdadeira conquista consiste em possuir e ser possuído. Na aspiração estamos expandindo, crescendo, divinizando e imortalizando-nos.

O desejo é um pássaro
Que nunca conseguimos de fato capturar.
A aspiração é um pássaro
Que oferece suas asas
Para que possamos orgulhosamente voar.