Siddharta Torna-se O Buda

Trechos da peça de Sri Chinmoy "Siddharta Becomes The Buddha", em tradução preliminar ao português.

Siddharta Torna-se O Buda

Elenco:

Siddharta ( mais tarde, o Buda)
Sujata, uma devota.
Primeiro Asceta
Segundo Asceta
Terceiro Asceta
Quarto Asceta
Quinta Asceta

Siddharta Torna-se O Buda

(Siddharta está sentado sob uma árvore em alta meditação. Entram os cinco ascetas.)

1º ASCETA: Oh Siddharta! Siddharta! Olhem para Siddharta!

2º ASCETA: Estou certo que ele irá realizar a mais elevada Verdade em breve.

3º ASCETA: Sem dúvida.

4º ASCETA: Nós também temos clamado por nossa realização. Temos rezado à Deus e trabalhado duramente em nossa vida interior. Mas a realização de Deus ainda é uma meta distante para nós. Estou feliz, pois ao menos uma pessoa irá realizar Deus.

5º ASCETA: Ao menos Siddharta irá alcançar a Verdade mais elevada. Não importa quem alcance a Verdade primeiro; Eu quero que as pessoas fiquem livres da ignorância

2º ASCETA: Ele poderia ter aproveitado todos os prazeres do mundo. Ele era o Príncipe e de todo modo ele poderia ter vivido uma vida de prazeres.

3º ASCETA: Ele sabe que a vida de prazeres não pode lhe dar uma satisfação duradoura.

4º ASCETA: Porém é muito difícil superar os movimentos vitais, os prazeres vitais.

5º ASCETA: Deus tem algo especial a fazer com a vida de Siddharta. Posso claramente ver isso.

( Entra Sujata, que se curva diante de Siddharta e põe à sua frente um cesto de guloseimas. Siddharta abre seus olhos e aceita a comida de Sujata.)

SUJATA: Ó Sábio, estou tão grata a você por ter aceito a minha comida. Você não tem comido nada há dias. Seu corpo ficou tão fraco, tão magro. Eu devo agora trazer comida para você regularmente. Você reza à Deus; devo serví-lo. Estou tão feliz, tão grata por você ter aceito meu serviço devotado.

SIDDHARTA: Agora eu entendi que passar fome não está certo. O caminho dos extremos não é correto. O caminho do meio é de longe o melhor. Para alcançar a Verdade mais elevada não é necessário deixar de comer. Deve-se comer moderadamente. É necessário comer para manter a saúde do corpo. Mas ao mesmo tempo não precisa ser um comilão voraz. Ao realizar a Verdade mais elevada, estarei no caminho do meio.

1º ASCETA: Vergonha, Vergonha! Vejam Siddharta! Ele está comendo!

2º ASCETA: Vejam quem o está servindo! Uma menina bonita!

3º ASCETA: Bem, o que você esperava? Por quanto tempo alguém consegue controlar sua própria vida vital?

4º ASCETA: Ai! Siddharta caiu!

5º ASCETA: Ele não merece nossa apreciação e admiração. Ele pegou guloseimas de uma menina bonita. Ele está servindo aos seus próprios sentidos e alimentando seu corpo. Viram? A vida de prazeres já começou. Uma mulher é o suficiente para destruir a aspiração de um homem, não importa quão sincero, quão devotado ele seja. Uma mulher bonita é o suficiente para tirar até mesmo um grande aspirante do caminho da Verdade. Vamos embora.

1º ASCETA: A quem acusar? A garota ou Siddharta?

2º ASCETA: Acuso a garota. Ela arruinou a aspiração de Siddharta.

3º ASCETA: Eu acuso Siddharta. Quem mandou ser tão fraco? Se tivesse sido mentalmente forte poderia tê-la rejeitado.

4º ASCETA: Bem, devemos nos lembrar que vencer os movimentos impróprios do vital é uma difícil tarefa.

5º ASCETA: Também é difícil rezar à Deus, meditar na Verdade.

4º ASCETA: Contudo, como ele estava fazendo uma tentativa para realizar o mais alto, deveria ter continuado.

5º ASCETA: Sinto pena dele. Ao mesmo tempo acho que agora ele não tem mais valia para nós. Achava que ele iria nos iluminar tão logo alcançasse sua própria iluminação.

3ºASCETA: Eu pensava o mesmo. Mas agora isso é impossível. Vamos embora, vamos embora. Siddharta falhou. Siddharta caiu.

(Saem os cinco ascetas)

( Por todo esse tempo, Sujata continua a alimentar Siddharta mostrando o seu amor, sua plena gratidão por ele. Lágrimas de gratidão correm dos olhos dela.)

SIDDHARTA: Sujata, não preste atenção a eles. São pessoas ignorantes. De pessoas ignorantes só podemos esperar ignorância. Você veio me alimentar e eu lhe sou grato. Você irá sempre sentir minha abençoada alegria.

SUJATA: Oh Sábio. Eu não presto nenhuma atenção a esses ascetas. Eles são tolos. Não vêem sua imensa sinceridade. Não vêem seu ardente clamor por Deus e pela Verdade. Eles levarão milhares de anos para realizar Deus, mas eu posso claramente ver que você irá alcançar sua Meta muito breve. Vejo o dia de sua realização aproximando-se rapidamente.

SIDDHARTA: Eles vieram e agora se foram. Eles enxergaram alguma coisa em mim e devido a isso quiseram ficar. Porém quando me viram aceitando a sua comida, foram embora. Eles se foram porque suas mentes ainda estão impuras; seus vitais necessitam de mais purificação; eles não conseguem identificar suas vidas com a minha consciência aspirante e com sua consciência dedicada. E a minha aspiração sente a profundeza da sua dedicação. Sujata, eu a abençôo com toda a minha alma e coração. Eu devo sentar aqui, aos pés da árvore Boddhi. Aqui eu devo realizar a Verdade. Não devo mais me mover a partir deste ponto. Mesmo que eu sofra devido ao frio, fome, sede ou por qualquer outra coisa, não deverei me mover. Aqui neste lugar, a minha iluminação deverá acontecer e então colocarei um fim à infelicidade.

(Sujata se curva à Siddharta e sai. Siddharta canta:)

Hihasane shushyatu me shariram
Twagashi mangsam pralayancha jatu
Aprapya bodhing vahukalpa durlabham
Naivasanat kayamatah chalishye
( Aqui neste lugar o meu corpo poderá murchar;
Pele, ossos e carne poderão ser destruídos.
Sem obter a suprema Sabedoria
Alcançável somente com dificuldade
Numa miríade de Eras,
Definitivamente eu não me moverei deste lugar.)

( Siddharta medita. Ele está tendo visões da vida. A vida de prazeres, de movimentos vitais, as forças do sexo estão tentando entrar nele.)

SIDDHARTA: Ah, esses movimentos do vital inferior estão tentando entrar em mim. Não, eu não devo permitir.Tenho minha força interior, força indomável. Devo lutar contra eles.

(Siddharta medita com uma determinação tremenda. De repente todo o seu ser é inundado com luz. Ele começa a cantar:)

Meu coração não mais deverá soluçar ou se afligir.
Meus dias e noites se desfazem na própria Luz de Deus.
Acima das duras tarefas da vida, minha alma
É um pássaro de fogo voando no infinito.
Conheci o Uno e Seu Jogo secreto,
E fui além do mar da ignorância-sonho.
Em sintonia com Ele, eu jogo e canto
Possuo o Olho dourado do Supremo.
Profundamente ébrio de Imortalidade.
Sou a raiz e os ramos de uma vastidão sem fim.
Minha forma eu conheci e realizei.
O Supremo e eu somos um – a tudo sobrevivemos.

( De repente o corpo de Siddharta começa a irradiar uma luz dourada e ele se transforma no Iluminado, no Buda.)

BUDA: Eu conheço, eu conheço a Verdade, afinal! Eu sei o caminho para acabar com a infelicidade e exterminar o sofrimento. De hoje em diante deverei servir a humanidade com minha luz interior. Eu vi a Verdade e essa Verdade todo ser humano na Terra irá conquistar. Minha verdade é para todos. Meu amor é para todos. Minha realização é para todos. Eu sou para todos. Essa vida, essa minha vida dedicada, é para o uso da humanidade. Agora que tenho a Luz Transcendental dentro de mim, devo ir para o mundo ensinar aos outros.

Cena 2

( Os cinco ascetas estão meditando. Entra o Buda)

BUDA: Aqui estou eu em Benares, a cidade sagrada. ( Ele vê os cinco ascetas.) Ahhh! Cá estão os cinco ascetas que vieram a mim e me deixaram.

1º ASCETA: Vejam! Siddharta está aqui de novo.

2º ASCETA: Porém agora ele não nos engana mais.

3º ASCETA: Certamente que não. Não nos engana nunca mais.

4º ASCETA: Mas olhem para ele. Ele parece diferente.

5º ASCETA: Vejo algo nele, algo estranho.

1º ASCETA: Bem, parece que há alguma luz nele.

3º ASCETA: Sua face inteira está brilhando.

4º ASCETA: Sua face? Seu corpo inteiro está brilhando!

5º ASCETA: Ele está iluminado, totalmente iluminado!

( O Buda chega até eles. Um a um eles tocam os pés do Buda. Com seu sorriso compassivo ele os abençoa.)

2º ASCETA: Siddharta, você não é mais Siddharta.

3º ASCETA: Você é o Iluminado.

1º ASCETA: Ó Buda, estamos nadando no mar da sua luz.

4º ASCETA: Ó Buda, somos seus primeiros discípulos.

TODOS JUNTOS: Conosco começa a jornada de sua manifestação. Conosco começa a manifestação de sua missão.

(O Buda dá a ele um sorriso de compaixão, alegria e orgulho)

BUDA: Vocês têm minha compaixão. Vocês têm minha luz. Vocês têm minha felicidade suprema, minhas doces crianças.

Pai, dê-me a minha parte, por favor

Elenco
O Buda
Discípulos do Buda
Rahul, filho do Buda

( o Buda com seus discípulos. Entra Rahul, seu filho. Os discípulos ficam todos animados em ver o jovem filho do Buda)

RAHUL: Pai?

BUDA: Sim, meu filho?

RAHUL: A mãe diz que você tem dado alegria a centenas de pessoas. Agora eu também quero obter essa alegria de você.

BUDA: Meu filho, diga que tipo de alegria você quer de mim.

RAHUL: Eu quero a minha parte da sua riqueza, da sua propriedade. Todos ficaram ricos com a sua riqueza. Agora eu quero ficar rico também.

BUDA: Meu filho, a minha riqueza é de um tipo diferente. Eu não tenho dinheiro. Eu não tenho riqueza material. Tenho somente riqueza interior, que são paz, luz e felicidade suprema.

RAHUL: Eu sei pai. Mamãe me contou sobre a sua riqueza. Você tem a paz infinita, o amor infinito, a alegria infinita, a felicidade infinita. Eu quero ter a minha parte. Eu sou o seu filho. Quero seguir o seu caminho.

BUDA: Mas você é uma criança; um menininho. Como você poderia aceitar o caminho neste momento?

RAHUL: Qual o problema, pai? A sua espiritualidade só faz sentido para os adultos e para as crianças não? A Verdade que você alcançou é somente para os mais velhos? A Verdade não é para todos? Deus não é para todos, pai?

BUDA: Maravilhoso minha criança; maravilhoso meu filho! Eu aceito a minha derrota. A Verdade é para todos. E você pode partilhar o meu amor, a minha paz e a minha luz como outros já partilham. Eu reparto com você a minha alegria, a minha paz, a minha iluminação.

RAHUL: Pai, você me aceitou como seu discípulo?

BUDA: Sim, eu o aceitei de todo meu coração e alma, meu filho.

RAHUL: Então você tem que aceitar outra pessoa também. Há mais um buscador que você tem que aceitar como seu discípulo. BUDA: Quem? Quem eu tenho de aceitar, meu filho?

RAHUL: Minha mãe. Minha mãe quer ser sua discípula.

BUDA (pausa): Meu filho, eu não aceito mulheres como minhas discípulas, minhas reais discípulas.

RAHUL: Por que não, pai? As mulheres não tem que realizar a mais alta Verdade? Seu coração é grande, pai. Todos dizem que o coração do Buda é tão vasto quanto o oceano infinito. Se seu coração é tão grande, como então pode negar às mulheres a Verdade que você realizou? Isto é injusto, pai. Você tem que aceitar minha mãe e o dia em que você a aceitar, deverá aceitar a todas as mulheres.

BUDA: Eu estou realmente orgulhoso de você, meu filho. Você ainda é uma criança, não chegou ainda a ver onze verões. Porém seu conhecimento interior é profundo. Meu filho, seu conhecimento da Verdade deu a mim enorme alegria e orgulho. O mundo me ouve. Eu tenho centenas de discípulos e eles me escutam com devoção. Eu escuto a você com o orgulho do meu coração e a alegria da minha alma. Vá e conte a sua mãe que eu também a aceitei como minha verdadeira discípula. Hoje eu coloquei ambos dentro do meu sangha, da minha comunidade espiritual.

O Buda necessita de umas poucas sementes de mostarda

Elenco
O Buda
Krisha Gautami, uma discípula
Uma senhora
Um homem
Uma garotinha

Cena 1

( O Buda está numa profunda meditação com seus olhos totalmente abertos. Entra Krisha Gautami, carregando seu filho morto. Ela põe a criança aos pés do Buda)

GAUTAMI: Ó Sábio, Ó Mestre, Ó Senhor, Ó Luz do mundo, por favor, por favor traga de volta à vida a minha criança. Ele é meu único filho.

BUDA: Gautami, não grite, não chore. Apenas faça o que eu disser.

GAUTAMI: Ó Mestre, eu farei qualquer coisa que o senhor quiser, imediatamente. Somente traga minha criança à vida.

BUDA: Gautami, eu quero que você me traga algumas sementes de mostarda. Porém elas precisam vir de uma família que não tenha sido visitada pela morte. Lembre-se, você precisa me trazer as sementes de mostarda somente de uma casa que não tenha sido visitada pela morte.

GAUTAMI: Ó Mestre, isso é muito fácil. Eu irei trazer as sementes de mostarda. O senhor será então capaz de curar meu filho?

BUDA: Sim, Gautami, eu serei capaz de fazê-lo se você me trouxer as sementes de mostarda de uma casa onde não tenha havido nenhuma morte.

Cena 2

(Gautami vai de porta em porta.)

GAUTAMI: Ó Mãe, por favor dê-me algumas sementes de mostarda. Meu único filho morreu e o Buda disse que se eu trouxesse algumas sementes de mostarda, ele o traria de volta à vida.

SENHORA: Não se preocupe, eu irei trazê-las para você

GAUTAMI: Ó venerável senhora, espere por favor. Diga-me primeiro, morreu alguém de sua família?

SENHORA: Quando?

GAUTAMI: Em qualquer tempo.

SENHORA: No ano passado eu perdi meu esposo.( Ela começa a chorar.)

GAUTAMI: Eu não posso então pegar suas sementes de mostarda.

( Gautami derrama lágrimas amargas e vai a outra casa. Um homem abre a porta.)

GAUTAMI: Meu Senhor, por favor dê-me algumas sementes de mostarda. Eu preciso muito delas.

HOMEM: Certamente, eu lhe darei algumas sementes de mostarda. Irei pegá-las para você.

GAUTAMI: Por favor me diga antes: morreu alguém em sua família?

HOMEM: Ah, semana passada eu perdi a minha esposa, minha pessoa mais querida na Terra.

GAUTAMI: Ah, eu não posso então aceitar as sementes de mostarda de você.

( Gautami mais uma vez derrama lágrimas amargas e vai à outra casa. Uma garotinha abre a porta.)

GAUTAMI: Minha criança, você é tão bonita. Por favor traga-me algumas sementes de mostarda. Vá por favor e peça à sua mãe algumas sementes de mostarda para me dar.

GAROTINHA: Eu sei onde minha mãe guarda sementes de mostarda. Vou trazê-las para você.

GAUTAMI: Diga-me por favor o que o seu pai faz.

GAROTINHA: Meu pai? ( Começa a chorar.) Meu pai está no Céu. Meu pai morreu de repente há dois meses atrás.

GAUTAMI: Minha criança, eu não posso levar suas sementes de mostarda.

Cena 3

(Gautami retorna ao Buda.)

GAUTAMI: ó Mestre, eu estive em muitos lugares. Cada família já perdeu alguém. Parece que não há família que não tenha sofrido mortes.

BUDA: Gautami, você está certa. Nenhuma família na Terra pode dizer que a morte não a visitou. Você está sofrendo e como você muitos e muitos outros estão sofrendo. Muitos sofreram e muitos irão sofrer. Não apenas muitos Gautami – todos. Todos tem que sofrer devido à morte. Nós viemos da Luz e devemos voltar para a Luz.

GAUTAMI: Mas, pai, ele era o meu único filho. Como eu posso ser consolada? Quem irá me consolar?

BUDA; Quem irá consolá-la, Gautami? Eu a irei consolar.

GAUTAMI: Por favor me console, pai. Você é o único que pode fazer isto.

BUDA: Gautami, por quanto tempo houver vida, haverá também a morte. O nascimento tem que ser seguido pela morte e a morte tem que ser seguida pelo nascimento. Agora, Gautami, eu devo lhe contar a causa do sofrimento. Você perdeu seu único filho. Sua vida está esmagada pela morte. Porém a causa do seu sofrimento não é a morte. A causa do sofrimento é o desejo. O dia em que você vencer o desejo, você venceu o sofrimento também. Reze e medite. Você vencerá o desejo e nesse instante verá que a luz e o deleite se tornaram seus amigos constantes.

GAUTAMI: Ó Sábio, o senhor é o meu Mestre. Hoje eu o conheci. Não tenho ninguém na Terra, ninguém. Não tenho marido, não tenho filho – ninguém a não ser você. Você é meu tudo. Você me consolou. O que eu necessito agora de você é a iluminação interior. Devo dedicar a minha vida inteira a você incondicionalmente, com todo o meu coração. Será através do meu serviço dedicado a ti, Mestre, que eu alcançarei a iluminação.

BUDA: Gautami, você está certa, absolutamente certa. Minha criança sua vida está destinada a entrar no reino da eterna bem-aventurança. Medite em Deus. Medite na Verdade. Você irá obter paz, alegria e felicidade suprema.

O ponto de encontro entre a existência e a não-existência.

Elenco:
Rei Pransenjit
Kshema, um grande discípulo do Buda

( O rei Prasenjit e Kshema estão no palácio real.)

REI: Kshema, você é um grande discípulo do Buda. Ele é orgulhoso da sua sabedoria e eu estou fascinado por sua visão espiritual, Você está no meu palácio há poucos dias e já concedeu tanta sabedoria a todos os membros da minha família real. Eu lhe oferto a minha mais profunda gratidão.

KSHEMA: Ó rei, eu estou muito feliz por ser capaz de servir meu Senhor Buda junto à sua família real.

REI: Kshema, conte-me em poucas palavras a cerca da filosofia do Buda. Você há de me perdoar, mas eu não disponho de muito tempo. Meu trabalho pelo Reino está simplesmente me matando. Estou sobrecarregado, porém profundamente interessado na filosofia do Buda.. Fale sobre ela em poucas palavras.

KSHEMA: Sua Majestade, O ensinamento do Buda é muito simples. Ele nos dá a mensagem da renúncia. Ele nos oferta a mensagem da compaixão. É através da renúncia e da compaixão que alguém pode entrar no Nirvana.

REI: Diga-me mais uma coisa, Ó Kshema.

KSHEMA: Sim?

REI: Por que O Buda não fala sobre a alma? Todos nós hindus acreditamos na existência da alma. Nada pode ser feito sem a alma.

KSHEMA: É verdade, Ele não falou a cerca da alma’porém falou sobre a luz interior. O que é essa luz interior senão a alma? Ele não usou o termo alma, contudo o que ele se refere como luz interior nada mais é do que a alma.

REI: Ele não usa o termo “Deus”. Nós hindus acreditamos em Deus.

KSHEMA: Realmente ele não usa o termo “Deus”. Porém ele utiliza o termo ”Verdade”. O que é a Verdade? Verdade é Deus. Deus é Verdade. No momento em que se realiza a Verdade mais elevada, se realiza Deus o Infinito.

REI: Me parece que o Buda não fala sobre a vida após a morte ou sobre a vida após o Nirvana.

KSHEMA: Justamente, o Buda não fala a cerca da vida e da morte após o Nirvana, mas ele nos fala por que a morte existe e um pouco sobre o Nirvana. Ele nos trouxe a mensagem da paz. a morte existe quando não há paz. Quando você tem paz, a morte não existe. Assim também como para a morte após o Nirvana, nós primeiro temos que saber o que é o Nirvana. Nirvana é o infinito deleite. O que pode haver após o deleite infinito? REI: Eu não compreendo sua filosofia, Kshema.

KSHEMA: Deixe-me tentar torná-la mais clara para você. Do seu palácio você pode ver o Ganges?

REI: Sim.

KSHEMA: Você pode ver o banco de areia do Ganges. Agora mande quem quer que seja de seu reino para contar o número de grãos de areia. Ou mande alguém medir o peso do oceano. Alguma pessoa de seu Reino poderia fazer estas coisas, Sua majestade?

REI: Me desculpe, mas eu não sei de ninguém que possa contar os grãos de areia da praia, ou medir o peso do oceano.

KSHEMA: Realmente. Ninguém pode contar os grãos do banco de areia do Ganges ou pesar a água do oceano. Similarmente, quando você entra em Nirvana, a felicidade lá é infinita. Ela não pode ser medida, pesada ou contada. Ela é insondável. Nesse domínio da felicidade mais elevada, vemos o encontro da existência e da não-existência. Lá a não-existência e a existência são inseparáveis, indescritíveis.

Aqui e em nenhum outro lugar

Elenco
O Buda
Alguns discípulos
Angulimal, um assassino
Rei Pransenjit
Rei Udayan de Kaushambi
Mangadiya, sua esposa
Porteiro
Ananda, o mais querido discípulo de Buda

Cena 1

( O Buda com seus discípulos. Um discípulo fica de pé.)

DISCÍPULO: Ó Senhor, eu queria pregar seus ensinamentos.

BUDA: Certamente que você pode, porém eu gostaria de fazer algumas perguntas primeiro. Estou certo que você será capaz de respondê-las.

DISCÍPULO: Será por sua graça, que eu serei capaz de respondê-las.

BUDA: Diga-me, se alguém falar mal de você, o que irá fazer?

DISCÍPULO: Meu Senhor, eu ficarei em silêncio.

BUDA: Diga-me, se ele lhe bater, o que você fará?

DISCÍPULO: Eu não levantarei a minha mão. Permanecerei quieto.

BUDA: Se ele quiser matá-lo, o que irá fazer?

DISCÍPULO: Permanecerei em silêncio. Sei que a morte é inevitável. Todo mundo irá morrer. Eu também deverei morrer um dia. Não devo invocar a morte e ao mesmo tempo não devo evitá-la.

BUDA: Eu estou muito satisfeito com suas respostas. Você pode pregar a minha filosofia. Tem as minhas bênçãos.( para todos os discípulos) Hoje eu queria andar na floresta. Aqueles que quiserem me seguir, podem vir.

(Ardorosamente todos os discípulos seguem o Buda.)

Cena 2

( O Buda e seus discípulos estão na floresta. De repente surge um bandido chamado Angulimal.)

ANGULIMAL: Parem! Parem!

BUDA: Eu já estou parado. É você quem ainda não parou. Você matou centenas de pessoas. Está vestindo uma guirlanda de polegares em torno do pescoço. Eu já estou parado; estou estacionado na Consciência infinita para sempre. Mas você ainda está percorrendo o mundo dos desejos vitais tentando destruir o mundo. É você que ainda não chegou a um ponto final. Eu já me encontro no silêncio estático do inefável.

( Angulimal puxa uma faca e tenta esfaquear o Buda, porém a luz do Buda o captura. Ele cái aos pés do Buda.)

ANGULIMAL: Ó Buda, me perdoe. Perdoe minha ignorância. Perdoe-me pelo que tenho feito ao mundo e pelo que ia fazer agora com você.

BUDA: Eu o perdoei; eu perdoei seu passado; eu perdoei seu presente.

ANGULIMAL: Se é verdade que perdoou meu passado e meu presente, então eu quero que o Senhor me prove.

BUDA: E como você quer que eu prove isso.

ANGULIMAL: Aceite-me como seu discípulo. Se o Senhor me aceitar como seu discípulo, então eu acreditarei realmente que me perdoou.

BUDA: Você é meu discípulo, Angulimal. Eu o aceito.

Cena 3

( O Buda com seus discípulos. Entra o rei Prasenjit)

PRASENJIT: Mestre, estou desolado por ter passado tanto tempo sem estar com o Senhor. Meu corpo fica no palácio, porém meu coração permanece convosco.

BUDA: Sim, meu filho, eu sei. Seu coração de dedicação e aspiração está aqui, mas seu corpo físico é requisitado pelo seu Reino.

PRASENJIT: Mestre, o mundo está tão corrupto. Mas seu sonho um dia se tornará realidade e então não haverá mais sofrimento neste mundo. Um dia o mundo saberá que a causa do sofrimento é o desejo. Agora as pessoas estão discutindo, lutando e se matando. Eu tenho algumas más notícias para o senhor: nesta última semana um membro da família foi esfaqueado até a morte por Angulimal, o bandido. Estou certo que o Senhor já ouviu sobre Angulimal. Ele removeu o polegar direito do meu parente e agora o colocou ao redor do seu próprio pescoço. Meus soldados estão se esforçando para tentar capturá-lo! Mas este criminoso nunca será capturado. Essas notícias são péssimas para mim. Mestre, eu rezo para que o Senhor faça alguma coisa no mundo interior pelo meu parente.

BUDA: Eu certamente farei alguma coisa por ele .

PRASENJIT: Eu estou certo Mestre, que irá chegar um dia em que mesmo um assassino como Angulimal será transformado pela sua luz e compaixão.

( Angulimal é agora um discípulo, ele está sentado entre os outros discípulos, escutando essa conversa. Está barbeado e usa uma veste simples e comum de um mendicante.)

BUDA: Pransenjit, A transformação de Angulimal já começou.

PRASENJIT: Como/ Quando? Onde?

BUDA: (Apontando para Angulimal) Aqui está Angulimal.

PRASENJIT: Este é Angulimal? Aquele que matou centenas de pessoas? Este é Angulimal? O Assassino? Eu vejo luz ao redor do seu rosto! Como pode ser possível?

BUDA: Sua transformação já começou. Cena 4

( O rei Udayan de Kaushambi e sua esposa Magandiya)

UDAYAN: Magandiya, por que você sempre fala mal do Buda?

MAGANDIYA: Eu o odeio! Eu o odeio! Eu o odeio! Ele me insultou! Eu preciso me vingar dele!

UDAYAN: Que estranho, quão estranho! Buda, dentre todas as pessoas, insultou a você? Como? Quando?

MAGANDIYA: Antes de me casar com você, eu o amei com toda a minha afeição. Porém ele rejeitou o meu amor brutalmente.

UDAYAN: Eu estou surpreso. Estou certo que ele rejeitou o seu amor gentilmente e não brutalmente.

MAGANDIYA: Diga o que você quiser; para mim Buda não é um homem de compaixão. Para mim ele é um homem de crueldade. Ele cria frustração nos corações dos outros. Ele cria destruição nas vidas alheias.

UDAYAN: Mas agora que você se casou, não está feliz comigo minha querida?

MAGANDIYA: Sim eu estou, mas um insulto é um insulto. Não posso esquecer o insulto do Buda e nem perdoa-lo.

( Entra o Guarda dos portões)

GUARDA: ( saudando o rei e a rainha) : O Buda e seus discípulos estão ansiosos para vê-lo Vossa Majestade.

UDAYAN: Por favor faça Buda e seus discípulos entrarem. Estou tão feliz que o próprio Buda tenha vindo ao meu palácio.

(Sai o guarda dos portões)

MAGANDIYA: Buda! Buda! É só pensar no diabo que ele aparece. Eu não receberei o Buda. Eu não o receberei mesmo! Fique com seu Buda, eu estou indo embora!

( Sai raivosamente, quebrando um vaso)

( Entra o Buda e seus discípulos. Udayan oferece a ele uma saudação de toda a alma)

UDAYAN: Buda por favor sente-se neste trono.

BUDA: Rei Udayan, eu prefiro sentar neste chão. ( Buda senta-se)

UDAYAN: Se o Senhor Buda senta-se no chão, então meu assento também será o chão. (Senta-se)

BUDA : Minhas crianças, sentem-se. ( Todos os discípulos se sentam) Onde está a rainha?

UDAYAN: Ela está extremamente ocupada. Temo que não será possível para ela se juntar a nós.

BUDA : Eu entendo, rei Udayan. Por algum tempo você estará ocupado em escutar meus ensinamentos espirituais e ela estará ocupada em me acusar e me insultar.

UDAYAN: Ó Buda, ninguém pode esconder nada de ti. Você é todo conhecimento.

( O Buda sorri.)

ANANDA: Ó Senhor, por que o Senhor vêm ao Reino de Kaushambi onde a rainha é tão hostil a ti? No caminho até o palácio muitas pessoas o zombaram , insultaram e ameaçaram. O Senhor sabe perfeitamente bem que é a rainha que tem os instigado nos últimos anos para dizerem e fazerem ao senhor estas coisas não divinas.

BUDA: Ananda, meu discípulo mais devotado, diga-me uma coisa: se nós formos a um outro lugar e nos insultarem lá, se formos criticados e ameaçados da mesma forma que fomos tratados neste reino, o que você sugeriria que fizéssemos?

ANANDA: Senhor, nós deveríamos ir imediatamente a um outro lugar.

BUDA; E se nesse novo lugar nós nos deparássemos com este mesmo problema, o que deveríamos fazer?

ANANDA: Deveríamos então ir para algum outro lugar, Senhor.

BUDA: Ananda , e se o mesmo acontecesse de novo e de novo a todo lugar que fóssemos, oque você faria?

ANANDA: Cada vez que fôssemos criticados e insultados deveríamos ir a um outro lugar e aguardar o nosso destino.

BUDA: Ó Ananda, minha criança querida, se mudássemos de um lugar para outro com a idéia de encontrar um lugar melhor para manifestar a Verdade, nunca seríamos bem sucedidos. A Verdade tem que ser manifestada aqui onde estamos e em nenhum outro lugar. Uma vez que a Verdade esteja estabelecida aqui, num piscar de olhos a Verdade será fundamentada em toda a parte. Aqui ou em lugar nenhum, a Verdade tem que ser estabelecida. Mais uma vez eu tenho que lhe dizer Ananda, A Verdade tem que ser vista, sentida e realizada dentro de si e então manifestada aqui na Terra, onde quer que você esteja e em nenhum outro local mais.

QUEM É O DONO? O SALVADOR-VIDA OU O TOMADOR-VIDA ?

Elenco:
Príncipe Siddharta
Devadatta, primo de Siddharta
Juiz

Cena 1

( Príncipe Siddharta está caminhando no jardim de forma contemplativa. De repente um pássaro cai à sua frente.)

SIDDHARTA: Ah, pobre pássaro! Meu coração está destroçado! Quem fez isso à você? Quem o machucou? Quem mirou está flecha em você? Coitado desse pássaro inocente! Deixe-me tirar essa flecha do seu corpo.(Ele remove a flecha.) Agora deixe-me tentar curá-lo.

(Entra Devadatta.)

DEVADATTA: Siddharta, esse é meu pássaro. Com que direito você fica com meu pássaro? Devolva-me!

SIDDHARTA: Não, esse pássaro é meu, Devadatta.

DEVADATTA: Seu pássaro! Eu acertei esse pássaro. Ele me pertence. Essa é a minha flecha. Eu o atingi e ele caiu aqui. Ele é meu, meu, minha propriedade, minha posse.

SIDDHARTA: Devadatta, se eu não tivesse removido a flecha deste pássaro, a essa hora ele estaria morto.

DEVADATTA: O assunto não é se o pássaro teria ou não morrido. Ele está vivo e é minha posse. Foi o meu poder, a minha habilidade, a minha capacidade que trouxe o pássaro à terra. Você não pode tê-lo. Todos o apreciam e o admiram pelo seu coração, pela sua bondade. Porém agora deixe o mundo apreciar minha capacidade, minha habilidade. Você está satisfeito com o que tem: amor. Eu ficarei satisfeito com o que tenho: poder. Meu poder, minha habilidade como arqueiro e não o seu amor, merece esse pássaro.

SIDDHARTA: Ó Devadatta, você tem o poder de matar e eu tenho o poder de amar. Porém este animal, esse pobre e inocente pássaro, está comigo e você não o terá de volta.

DEVADATTA: Siddharta, há hora para ouvir sua filosofia e há pessoas para ouví-la. Porém a hora não é essa e a pessoa não sou eu. Você pode colocar sua filosofia para aqueles que queiram ser como você é, que não tenham senso prático e queiram viver no mundo da Lua. A vida tem que ser prática. A vida necessita de força, de vigor. Porém a sua vida é uma vida de preguiça e falsa bondade. Você tem que ser forte. Você é o príncipe e em breve terá que governar o seu Reino. Este tipo de atitude falsa não irá ajudá-lo de maneira nenhuma. O que eu fiz hoje, você irá fazer milhões de vezes. Eu ia matar um pássaro; você um dia irá matar homens. Nessa hora a sua filosofia irá mudar.

SIDDHARTA: Não Devadatta, minha filosofia irá sempre permanecer a mesma. Minha filosofia é a filosofia de compaixão e não a filosofia de destruição.

DEVADATTA: Fique com a sua filosofia que eu fico com a minha. Minha filosofia é o poder. Sua filosofia é a compaixão. Tudo bem. Agora dê-me o meu pássaro.

SIDDHARTA: Desculpe mas eu não vou lhe dar.

DEVADATTA: Está preparado para ir ao tribunal, lutar por esse pássaro?

SIDDHARTA: Sim, estou preparado.

Cena 2

(No Tribunal)

JUIZ: Príncipe, porque guardas contigo um pássaro que pertence a outrem? Sabemos que você tem compaixão, que tem amor pelo pássaro. Você tem amor por tudo. Contudo a Justiça diz que o pássaro pertence a Devadatta. Foi ele que o trouxe para a terra. A posse é dele.

SIDDHARTA: Ó venerável Juiz, eu não sei nada a cerca de justiça, mas meu coração me diz que aquele que salva a vida é o seu possuidor e não aquele que toma a vida. Meu coração sofria pelo pássaro e eu o salvei. Estou preparado para dar minha própria vida por este pássaro.

DEVADATTA: Siddharta, você sabe como falar. Sabe perfeitamente bem que ninguém irá matá-lo no lugar deste pássaro. Não mostre a sua falsa compaixão.

JUIZ: Devadatta, eu sou o Juiz. Deixe-me ouví-lo mais.

SIDDHARTA: Ó Senhor, eu sinto que este pássaro me pertence, pois salvei a vida dele. Devadatta praticamente matou o pássaro. Por favor, diga-me quem é mais importante, o salvador-vida ou o destruidor-vida?

JUIZ: Príncipe, eu concordo com você. O salvador-vida é infinitamente mais importante do que o tomador-vida. Você salvou a vida do pássaro; portanto é você quem pode reivindicá-lo. Ele é seu. Aquele que salva a vida ou que dá uma nova vida é o verdadeiro possuidor e não aquele que tira a vida ou destrói a vida. Hoje você ofereceu sua vida pelo pássaro. Chegará um dia em que, eu posso claramente ver, você oferecerá sua por toda a humanidade. Seu coração irá clamar pelo salvamento do sangrante coração da humanidade. Seu coração irá clamar pela iluminação da obscura mente da humanidade. Sua alma irá clamar pela elevação da consciência da humanidade.

DEVADATTA: Siddharta, hoje se poder-coração teve vitória, porém chegará um dia em que deverei vencê-lo com meu poder destruição. Você então verá que o poder vence o amor. SIDDHARTA: Devadatta, você está errado. O amor irá sempre vencer, pois o amor é o poder todo-poderoso.

Príncipe Siddharta deixa o Palácio

Elenco:
Príncipe Siddharta
Channa, seu cocheiro
Um homem velho
Um homem doente
Um homem morto
Um homem espiritual

Cena 1

( Channa, o cocheiro de Siddharta, está conduzindo o príncipe através das ruas.)

SIDDHARTA: Channa, estou tão alegre hoje.Pela primeira vez estou saindo do palácio. Eu sinto agora a fragrância real da vida. Veja esta vista panorâmica. Meu ser está por inteiro num êxtase profundo.

CHANNA: Ó Príncipe, em sua felicidade está minha felicidade. Estou sempre ao seu dispor.

( De repente Siddharta vê um homem velho diante de si.)

SIDDHARTA: Channa, quem é esse homem? Ele mal consegue andar. Quão estranho – seu cabelo é branco. Meu cabelo é negro e o seu também. Todos no palácio têm cabelos negros. O que há de errado com o cabelo deste homem?

CHANNA: Príncipe, ele é um homem velho; devido a isso ele é muito fraco. Esse é motivo dele não poder caminhar bem. Pessoas velhas têm cabelos brancos. Um dia eu e o senhor ficaremos velhos também.

SIDDHARTA: Eu? Vou ficar velho? Impossível! Sinto muita pena desse homem velho. Channa eu não acho que eu tenha que envelhecer.

CHANNA: Príncipe, como eu queria que o senhor nunca se tornasse velho! Mas, infelizmente, ninguém pode escapar do envelhecimento.

SIDDHARTA: Channa, eu tenho realmente muita pena desse homem velho, tão magro e fraco. Vamos voltar para o palácio. Espero que amanhã eu não tenha que ver um homem velho.

CHANNA: Oh não. Amanhã eu vou levá-lo por uma outra estrada.

SIDDHARTA: A simples idéia de ficar velho no futuro está me entristecendo

CHANNA: A mim também, Ó Príncipe.

Cena 2

( O dia seguinte. Channa está levando Siddharta na carruagem por estrada diferente.)

SIDDHARTA: A vida fora do palácio é realmente bela, Channa. Aqui tudo é novo, encantador e pleno de alma.

CHANNA: Estou feliz que esteja apreciando o seu passeio. SIDDHARTA: Dentro do palácio há tanto luxo.Aqui fora tudo é belo, a beleza da natureza, a beleza da vida.

( Subitamente, Siddharta vê um homem deitado na rua.)

SIDDHARTA: Channa, quem é aquele homem? Ele não consegue sequer se sentar direito. Ele está deitado na rua. Está pressionando sua cabeça com uma mão e seu estômago com a outra. Seus olhos estão encovados. Ele está gemendo e derramando lágrimas amargas. O que há de errado com ele? Parece que está com dificuldade para respirar.

CHANNA: Príncipe, este homem está doente. Ele está sofrendo com fortes dores de cabeça e de estômago. Talvez tenha outros sofrimentos também. Príncipe, todos ficam doentes de vez em quando.

SIDDHARTA: Não! Eu nunca fiquei doente. Tenho pena deste homem. Há algo que eu possa fazer por ele?

CHANNA: Não, o senhor não pode ajudá-lo. Somente um médico poderá ajudá-lo. Estou certo de que logo alguns de seus amigos irão levá-lo a um doutor. Príncipe, vamos embora deste lugar. Assim como ontem, também hoje sua alegria foi arruinada. O mundo está cheio de miséria.

SIDDHARTA: Estou vendo. Eu estava totalmente ignorante disso. Amanhã deveremos tomar uma outra estrada e rodarmos pelo Reino.

CHANNA: Certamente. Amanhã iremos por outras ruas.

Cena 3

( No dia seguinte, Siddharta e Channa estão na carruagem. Channa pegou uma estrada nova.)

SIDDHARTA: Belo, belo! Hoje eu vejo e sinto uma real beleza na Terra. Nós cobrimos uma longa distância. Passamos por uma série de belos cenários.

( De repente Siddharta vê algumas pessoas carregando um homem nos seus ombros. Caem lágrimas pelos rostos deles.)

SIDDHARTA: Channa, O que há de errado com aquele camarada? Porque outros têm que carregá-lo? E porque estão chorando?

CHANNA: Ah, aquele homem está morto.

SIDDHARTA: O que significa?

CHANNA: Não há vida nele, Príncipe. Seu jogo na Terra terminou. Todos têm que morrer um dia. Todos têm que ir embora deste mundo. Todos têm que sofrer a morte.

SIDDHARTA: Eu não! Eu não quero morrer. Minha esposa amada também tem que morrer? Meu querido Rahul também tem que morrer? Não isso não pode ser.Eu não serei capaz de suportar essas perdas.

CHANNA: Príncipe, quem quer que viva na Terra terá que morrer. Ninguém pode viver para sempre.

SIDDHARTA: Channa, eu não posso acreditar nisso. Eu devo vencer a morte, não somente por mim mas por todos. Channa por favor diga-me se existe algo mais poderoso, mais destrutivo do que a morte.

CHANNA: Não Príncipe, não há nada mais poderoso e destrutivo do que a morte. A morte vence tudo. Todos somos escravos da morte.

SIDDHARTA: Não eu!

CHANNA: Estamos todos à mercê da morte.

SIDDHARTA: Eu não! Channa, agora que eu vi um homem velho, um homem doente e um homem morto, penso que vi tudo de ruim que o mundo pode me mostrar. Mas algo dentro de mim me diz que há coisas que ainda não vi. Quero sair amanhã de novo.

CHANNA: Se o senhor quiser sair de novo de seu palácio, eu ficarei mais do que feliz em conduzí-lo, Ó Príncipe.

Cena 4

( No dia seguinte, Siddharta e Channa estão indo de carruagem através das ruas.)

SIDDHARTA: Channa, nós cobrimos uma grande distância. Hoje tudo está bem. Hoje eu não tenho que ver um homem velho, um homem doente ou um homem morto. Eu devo apenas ver e apreciar a beleza da natureza, o esplendor da natureza, o amor da natureza, o coração da natureza e a alma da natureza.

( De repente, Siddharta vê alguém meditando debaixo de uma árvore.)

SIDDHARTA: Quem é aquele homem, Channa? O que ele está fazendo aos pés daquela árvore? Por que seus olhos estão fechados? O que ele está fazendo com um colar de contas?

CHANNA: Eu estarei respondendo suas questões uma a uma , ó Príncipe. Quem é aquele homem? Ele é um homem espiritual. O que ele está fazendo aos pés daquela árvore? Ele está rezando e meditando. Por que seus olhos estão fechados? Ele pensa que suas preces serão mais sinceras e que sua meditação será mais intensa caso permaneça com os olhos fechados. O que ele está fazendo com um colar de contas? Está repetindo o nome de Deus e contando o número de vezes que canta nas contas.

SIDDHARTA: Eu acredito em tudo que você diz, mas o que ele conseguirá, levando esse tipo de vida?

CHANNA: Ele irá alcançar paz infinita e alegria infinita.

SIDDHARTA: Paz infinita? Alegria infinita? Eu preciso ir e falar com ele. Channa, venha cá. Vamos lá falar com aquele homem peculiar.

CHANNA: Realmente é uma boa idéia.

( Eles deixam a carruagem e se aproximam do homem espiritual.)

SIDDHARTA: Posso saber o seu nome? O que você faz para viver? ( Nenhuma resposta do homem espiritual.) Você sabe que sou o Príncipe Siddharta? Meu pai possui este Reino; ele é o Senhor deste Reino. Você está ignorando o filho dele. Eu posso fazer o que quiser com você. Pelo amor de Deus, não me faça perder meu precioso tempo!

( Nenhuma resposta do homem espiritual.)

CHANNA: Príncipe, perdoe-me. Eu preciso lhe dizer algo. Este é um homem espiritual. Ele está rezando para Deus; ele está meditando em Deus. Não devemos perturbá-lo. Quem pode saber o que se passa dentro dele? Talvez Deus e ele estejam conversando interiormente. Talvez Deus esteja dizendo para ele como obter paz e felicidade infinitas.

SIDDHARTA: Eu preciso disto. Eu necessito de infinita paz e infinita felicidade, Channa. Você acha que eu alcançarei este tipo de paz e felicidade?

CHANNA: Por que não? Por que não? Com certeza o senhor terá paz infinita e felicidade infinita se rezar e meditar como aquele homem espiritual.

SIDDHARTA: Channa, amanhã então uma nova vida começará para mim. Eu irei rezar e meditar o dia todo e a noite inteira. Minha vida atual de luxo irá acabar. Eu aceitarei a vida de pobreza. Abraçarei a vida de renúncia. Colocarei um fim no sofrimento do mundo. Sei que a ignorância é a raiz de todo sofrimento. Eu deverei extirpar a enorme árvore-ignorância, Channa; vou exterminá-la. No primeiro dia eu vi um homem velho; no segundo dia vi um homem doente; no terceiro dia vi um homem morto; hoje, no quarto dia, eu vi um homem espiritual. Seja amanhã, num futuro próximo ou distante, eu irei ver um outro homem, que terá luz infinita, paz infinita e felicidade infinita. Minha vida é inútil e sem sentido sem a luz da Eternidade, a paz do Infinito e a felicidade da Imortalidade. O humano em mim terminou seu papel aqui, Channa. A vida de prazeres não é mais para mim. O divino em mim deverá iniciar o seu desempenho amanhã.Para mim de agora em diante, somente a vida da paz universal e da felicidade transcendental.

BUDDHAM SARANAM GACCHAMI

Elenco:
Porteiro
Devadatta (primo do Buddha e um amigo íntimo de Ajatashatru)
Ajatashatru, o Príncipe, mais tarde o Rei
Dr. Jaivaka ( médico do Rei Ajatashatru )
O Buddha
Discípulos do Buddha

Cena 1

( O palácio do Rei Bimbisara. Devadatta entra.)

PORTEIRO: Posso saber quem está procurando, senhor?

DEVADATTA : Sim, por favor vá e diga ao Príncipe Ajatashatru que o seu amigo Devadatta está aqui.

( O porteiro sai.) ( Entra Ajatashatru.)

AJATASHATRU: Venha, venha. Estou muito feliz em vê-lo.

DEVADATTA: Eu queria ter uma conversa em particular com você. Seria possível?

AJATASHATRU: Sim, venha até os meus aposentos; entre no meu quarto. Não há ninguém lá.

Cena 2

( Um quarto muito bonito. Entram Ajatashatru e Devadatta.)

DEVADATTA: Ajatashatru, meu amigo, diga-me francamente: você tem inveja de alguém?

AJATASHATRU: Eu acho que não.

DEVADATTA: Eu tenho. Eu morro de inveja de Buddha. Porém minha inveja não me adianta de nada. Ele agora tem milhares de discípulos, enquanto eu só tenho alguns. E mesmo estes poucos discípulos estão me deixando e indo para ele. Eu o odeio! Eu quero matá-lo!

AJATASHATRU: Oh, agora estou percebendo que também sinto inveja de alguém.

DEVADATTA: Ah, você também tem inveja de alguém? Por favor diga quem é.

AJATASHATRU: Eu tenho inveja do meu pai, o Rei. Todos tocam os seus pés; Todos o adoram. Ele é muito rico e poderoso.

DEVADATTA: Está vendo, você tem tantas razões para invejar o seu pai quanto eu para invejar o Buddha. Mas podemos resolver seu problema facilmente.

AJATASHATRU: Se você resolver o meu problema eu tentarei também resolver o seu problema, Devadatta.

DEVADATTA: Ajatashatru,seu pai está velho. Este é o momento para ele descansar e se aposentar, mas os velhos nunca querem parar. Mesmo nos seus últimos momentos eles ainda querem aproveitar o mundo, dominar o mundo. Você já superou seu pai em todos os aspectos. Você tem força e poder. Apenas jogue este homem velho na prisão e torne-se o Rei. Poderá então reinar pacífica e bravamente. Quem irá impedí-lo? Eu irei ajudá-lo.

AJATASHATRU: É uma idéia excelente, excelente! Eu farei isto. E quando for Rei, prometo a você Devadatta, que irei ajudá-lo a matar o Buddha.

DEVADATTA: Não se esqueça de cumprir sua promessa, Ajatashatru. Agora você é o Príncipe, mas em breve se tornará Rei. E terá se tornado rei pela força do meu conselho.

AJATASHATRU: Não sou um camarada ingrato. Vou me lembrar de sua ajuda. Eu quero me tornar Rei e com o seu conselho irei satisfazer o meu desejo. Aí então irei ajudá-lo a se livrar do Buddha.

Cena 3

( Meses depois.O Rei Ajatashatru está consultando seu médico Dr. Jaivaka)

AJATASHATRU: Porque eu comecei a sofrer de todos os tipos de doenças e distúrbios desde que me tornei Rei? Quando era Príncipe, estava sempre saudável e robusto; mas agora eu perdi toda a minha saúde. Isto é devido a pressão do meu trabalho?

DR. JAIVAKA: Não, Rei, não é isto que está causando o seu sofrimento.

AJATASHATRU: Por que então, estou sofrendo?

DR. JAIVAKA: Sua doença, Rei, é psicológica. O senhor tem uma doença interior.

AJATASHATRU: Que tipo de doença interior? O que você quer dizer com doença interior, Dr. Jaivaka? Como você irá me curar?

DR. JAIVAKA: Ó Rei, Eu não serei capaz de curá-lo pois sua doença não é física. Sua doença é mental, psicológica, espiritual. Somente o Buddha poderá curá-lo.

AJATASHATRU: Buddha? O Senhor Buddha? Você sabe que Devadatta e eu somos amigos íntimos, muito próximos?

DR. JAIVAKA: Sim, eu sei disso. E sei também que Devadatta ajudou a torná-lo Rei.

AJATASHATRU: Certamente ajudou. E eu prometi a ele que o ajudaria a se livrar de Buddha.

DR. JAIVAKA: Isso também eu ouvi. Estou totalmente ciente disso.

AJATASHATRU: Então por que me diz que Buddha pode curar-me? Isso é impossível.

DR. JAIVAKA: Ó Rei, o senhor quer que eu lhe diga a verdade ou quer que eu fique lhe adulando? Nenhum doutor comum poderá curá-lo. Só o Buddha pode lhe curar. Seu coração é extremamente puro. Seu coração se sente miserável pelo que o senhor fez com o seu pai e pelo o que está fazendo ao Buddha, o inocente Buddha, a Luz do mundo. Certa vez rolaste uma grande pedra na direção dele enquanto ele meditava com os seus discípulos, mas ela desviou-se antes de acertá-lo. Em outra ocasião o senhor soltou um elefante louco para destruí-lo. O Buddha no entanto apenas olhou para o elefante e este ajoelhou-se diante dele. Instigado por Devadatta o senhor tentou matá-lo de diversas formas, porém falhou em cada tentativa e irá sempre falhar. Buddha realizou a Verdade mais elevada. Seu coração está clamando pela Verdade mais elevada. Está é a sua doença, a doença do seu coração espiritual. Se o senhor quer realmente ser curado, vá ao Buddha. Ele é o Doutor Divino, o Doutor Supremo. Ninguém na Terra senão o Buddha pode curá-lo. Ele pode e irá.

AJATASHATRU: Ó doutor humano, você está me enviando para o Divino Doutor. Estou agradecido. Minha vida de desejo vital terminou.Minha vida de aspiração da alma está começando com o seu conselho divino.

DR. JAIVAKA: Sua alma está mais do que pronta para aceitar a luz do Buddha. Buddha, a luz infinita, irá transformar Ajatashatru, o Rei da ignorância, em Ajatashatru, a luz da felicidade imortalizada.

Cena 4

( O Buddha com centenas de discípulos. Entra o Rei Ajatashatru. Todos os discípulos ficam agitados. Ajatashatru se prostra diante do Buddha.)

AJATASHATRU: Ó Senhor do mundo, dentro da nossa estupenda ignorância, eu e meu amigo Devadatta tentamos matá-lo várias vezes, mas falhamos, falhamos totalmente. Hoje eu estou aos seus pés augustos, para ser morto imediatamente pelo seu sol-sabedoria.

BUDDHA: Ó Rei...

AJATASHATRU: Mestre, eu não sou seu rei. Tu és o rei do meu coração e da minha alma. Tu és o Senhor do meu coração e da minha alma. Eu sou seu escravo imerecido.

BUDDHA: você não é meu escravo, você é meu filho, meu filho escolhido. Meu sol-compaixão perdoa sua noite-ignorância. Meu sol-sabedoria ilumina, libera e imortaliza o clamor do seu coração.

( Entra Devadatta. Cai aos pés de Buddha.)

DEVADATTA: Siddharta, quando nós dois éramos jovens, eu briguei com você pela posse de um pássaro. A força de meu vital desregrado e não divino etve que se render à força do seu coração todo-amoraso. Você ganhou o pássaro. Eu lhe disse que um dia com o meu amor vital pelo poder eu iria vencer o poder de amor do seu coração. Desde então eu tenho tentado de centenas de modos humilhá-lo, arruinar a sua missão e matá-lo, mas eu falhei. Você daquela vez me perdoou Ó Siddharta. Agora, Ó Buddha, minha vida vergonhosa implora seu perdão.

BUDDHA: Devadatta, o perdão está dado.

DEVADATTA: ó Buddha, se o senhor realmente perdoou esta criatura inumana, então faça outro favor dentro da sua infinita generosidade. Seu coração de compaixão tomou conta daquele pássaro inocente.Agora eu oro para que tome conta do sangrante e choroso pássaro dentro do meu coração. E eu também oro para que tome da gaiola dele, este corpo.

( Devadatta canta três vezes)

Buddham saranam gacchami
Dhammam saranam gacchami
Sangham saranam gacchami
Eu tomo o Buddha por refúgio
Eu tomo o Dharma por refúgio
Eu tomo a Ordem por refúgio